Ser ou não ser mãe? Eis a questão
- Rafaela Gomes Geraldo - 06/163831
- 17 de mai. de 2021
- 4 min de leitura
O texto a seguir foi uma encomenda especial e exclusiva para a Psicologia Pinheiro. A psicóloga Rafaela Gomes Geraldo (06/163831) nos convida a refletir sobre a maternidade e questões entorno do desejo (ou não) de se tornar mãe. Ah, somente um adendo, esse texto também vale para familiares e amigos, pois compreender a maternidade nos ajuda a compreender um dos papeis da mulher na sociedade, assim como iluminar questões socioculturais que atravessam a singularidade feminina na construção do ideal de maternidade.
Ser ou não ser mãe? Eis a questão.
Por Rafaela Gomes Geraldo
Se tornar ou não uma mãe ou um pai, fazer parte do mundo da maternidade e da paternidade é uma questão para você?
A construção do projeto da maternidade se inicia cedo para muitas mulheres a partir da possibilidade, enquanto adultas, de se tornarem ‘mães’. Porém o tornar-se mãe vem sendo construído a partir de diferentes influências vividas pelo sujeito no decorrer de sua vida, influências tais que podem colocar em dúvida se o desejo da maternidade é da própria mulher ou de sua família, por exemplo, desconsiderando suas próprias fantasias e medos em torno desse ideal.
Porém para boa parte das mulheres que têm a liberdade e o poder de escolha, essa não é uma decisão tão fácil assim de ser realizada. Fazer uma escolha está diretamente ligada à perda. Quando escolhemos um, deixamos de ter o outro, deixamos de vivenciar outras experiências que poderiam ser vividas se as tivéssemos escolhido, portanto, fazer uma escolha pode gerar muito sofrimento, principalmente para aquelas pessoas, assim como eu, indecisas e que gostariam de poder experimentar um pouco de todos os mundos.
O poder de escolha da maternidade e paternidade é algo muito recente. No passado, fazia parte da vida cotidiana das pessoas terem filhos e isso não era algo questionado. Em uma época na qual a medicina e os hábitos de higiene ainda não eram tão desenvolvidos, as pessoas iam a óbito mais cedo. Para se ter uma noção, a média de idade nas primeiras décadas do século XIX na Europa rondava os 30 anos de idade! A morte era vista de perto e não tratada com tanto tabu como atualmente. Assim, as mulheres tinham vários filhos, por vezes “um atrás do outro”. Não se questionava se elas gostariam ou não de tê-los, assim como o número de filhos. Não havia planejamento familiar e tão pouco métodos contraceptivos, até porque quanto mais descendentes, mais mão de obra, maior geração de capital...
O tempo passou, a medicina avançou, as pessoas passaram a viver cada vez mais, as mulheres ingressaram com força no mercado de trabalho, não tendo mais tanto tempo para as tarefas da casa e responsabilidades com a família, ficando a maternidade em segundo plano em suas vidas – assim como diversos homens o fazem em suas paternidades. Estudar, ter uma carreira e ser bem sucedido profissionalmente, ter seus próprios bens, uma casa, um carro, viajar o mundo, explorar sua sexualidade, namorar, dentre outras possibilidades, não são mais possibilidades restritas aos homens. Postergar a maternidade para o futuro tornou-se uma possibilidade – claro, sem nos esquecermos do relógio biológico feminino, o que contribui na geração de angústia e sentimentos de pressão e urgência para sermos mães em uma janela determinada de tempo. Afinal, a mulher pode “até querer ser mãe’, mas muitas vezes não em um espaço de tempo tão curto.
Não podemos nos esquecer das milhares de mulheres que no presente ainda não possuem esse poder de escolha, ainda são massacradas pela mídia, pela sociedade, pela religião ou pela cultura para serem mães, sendo reforçado e disseminado diariamente que sem isso elas não serão completas, não serão mulheres de verdade, não estarão contribuindo e exercendo o seu papel enquanto mulher detentora de um útero. Entretanto, já se sabe cada vez mais que não funciona bem assim, as mulheres, assim como os homens, devem ter o poder de escolha sobre as suas vidas, sem serem julgadas ou discriminadas diante disto.
Contudo, voltamos à questão, ser ou não ser mãe?
Como decidir por algo tão importante, que vai mudar sua vida e possivelmente a de outras pessoas do seu entorno? Eis uma questão que só pode ser decidida individualmente, visto que o desejo se refere ao subjetivo, único, singular. Cada um deve ter a liberdade de escolher por si, sabendo de todas as prováveis consequências da sua escolha ou a falta dela.
Sabe-se que a maternidade e a paternidade exigem grande responsabilidade diante dos cuidados da criança, e essa não é uma função que qualquer um é capaz de exercer, portanto uma pessoa que escolha ter um filho tem maior probabilidade de estar disposta e preparada para enfrentar os desafios da parentalidade, diferente daqueles que não tiveram esse poder de escolha e foram forçados, mesmo que inconscientemente, a esse cenário. Para aquelas mulheres que se tornaram mães pela pressão social (mesmo que não tenham plena consciência disso), há uma maior probabilidade de ocorrência de alterações psicológicas e emocionais como o estresse, ansiedade e a depressão.
Para aqueles que se encontram em dúvida sem saber o que escolher, assim como outros que possam estar angustiados e pensativos diante da gravidez, a Psicoterapia pode ser indicada e muito benéfica, contribuindo para que o sujeito busque respostas para as suas questões e sofra menos diante de suas escolhas.
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