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COVID-19 e ansiedade

  • Foto do escritor: Raphael Pinheiro
    Raphael Pinheiro
  • 3 de ago. de 2020
  • 4 min de leitura

Vivemos no presente, uma fração de segundos que se resume no que fazemos agora ou no exato instante em que a vida acontece. Alguns segundos depois, aquele momento presente torna-se uma lembrança, que poderá ou não ser esquecida. Para isso, damos o nome de passado.


A pandemia em que vivemos da COVID-19 vem modificando nossa história diariamente. Algumas mudanças são mais perceptíveis, como o aumento da prática de home office, distanciamento social e utilização de máscaras, assim como o número de novos casos de contaminação, aumento do desemprego e novos óbitos.


O corpo humano atua sobre uma lógica chamada “homeostase”, o que em linhas gerais, refere-se à busca pelo equilíbrio interno. Nos dias de muito calor, transpiramos mais para manter a temperatura estável; eliminamos gás carbônico para regular a entrada de oxigênio; produzimos mais cortisol em situações estressantes, ou seja, estamos constantemente nos adaptando.


As mudanças impostas pela pandemia em âmbito individual e social tem a capacidade de comprometer nosso equilíbrio, podendo ocasionar na aparição de diferentes sintomas na população. Em pesquisa realizada pela UERJ e Yale University entre março e abril de 2020 com participação de 1.460 pessoas de 23 estados, constatou-se que casos de depressão quase dobraram (4,2% para 8%), enquanto quadros de ansiedade e estresse tiveram um aumento de 80% durante o período de pandemia e consequente isolamento social ¹.


Assim sendo, este será o primeiro de um conjunto de textos abordando as consequências da pandemia para nossa saúde mental, iniciando com o tema "ansiedade e pandemia"

Ansiedade e pandemia


Ansiedade e estresse são termos que por vezes representam a mesma coisa, porém cabe uma diferenciação: ansiedade refere-se a um conjunto de sintomas – taquicardia, sudorese, tensão muscular, palpitação, etc, ocorrendo simultaneamente ou não, enquanto o estresse refere-se aos processos químicos internos do indivíduo a fim de lidar com alguma exigência do ambiente (para compreender melhor as fases do estresse, clique aqui).


Assim, para compreendermos os motivos que levaram a um aumento tão significativo de casos de ansiedade após a nova realidade de distanciamento social, cabe-nos levantar algumas das mudanças ambientais que surgiram desde o início do isolamento:

· Aumento da insegurança quanto a própria saúde e de seus familiares;

· Insegurança quanto ao afastamento e manutenção do trabalho;

· Contas acumuladas devido a paralisação da economia;

· Filhos afastados da escola dividindo o mesmo espaço doméstico que os pais;

· Pais que buscam se adaptar à realidade do home office;

· Distanciamento da vida social – família e amigos;

· Nova rotina de higiene;

· Bombardeamento de notícias sobre contaminações e mortes;

· Contaminação doméstica; entre outros.


Isoladamente, qualquer um dos fatores listados acima já seria capaz de causar aumento de ansiedade, porém por vezes conseguimos contorná-los e assim seguimos a vida. Mas esse é o melhor dos cenários. No caldeirão da vida, um ingrediente em excesso ou “errado” pode alterar o sabor, e esse desequilíbrio – pequeno por vezes – pode se tornar gerador de um mal-estar constante.


1. Como vai sua rotina?


A ansiedade tem uma relação próxima com o ambiente no qual nos encontramos, mas não somente. Nossos pensamentos e a maneira como vemos e sentimos o mundo também influenciam em nosso equilíbrio e também podem gerar ansiedade.


O primeiro ponto é compreendermos a ansiedade como uma resposta do nosso organismo, e neste sentido devemos voltar um passo atrás para compreender o porquê dessa resposta. Observar sua rotina pode trazer pistas sobre como, de fato, seu dia a dia foi modificado por conta da COVID-19 e o que está ao seu alcance.


*Uma rotina mais adequada pode inclusive colaborar para melhoria na qualidade do sono, momento no qual recuperamos nossa energia, solidificamos novos conhecimentos e melhoramos nosso humor também.


2. O que você anda sentindo?


O acúmulo de pensamentos e preocupações ocasionados pela quarentena e distanciamento social também podem levar ao adoecimento. Expressar seus sentimentos por meio de terapia pode ser uma boa solução. A leitura de um livro ou exercícios de relaxamento também são ferramentas úteis na redução daquela agitação cotidiana. Medo, irritabilidade, humor rebaixado e outras alterações podem apontar para efeitos da nova realidade da epidemia.


3. Mantenha o contato com as pessoas que você gosta


Ligações por videochamada podem ser uma boa solução para ajudar na solidão, além do mais, talvez a pessoa do outro lado da tela também esteja se sentindo só. Não dispõe dessa tecnologia? Combine então um horário para ligar.

Também não precisa ligar todo dia! Uma boa conversa há cada 15 dias ajuda a retomar os laços sociais e, quem sabe, poder trocar alguns desabafos e risadas enquanto conversam.


*videochamadas também são um recurso valioso no cuidado de idosos em isolamento. A sensação de abandono pode ser bastante prejudicial, podendo inclusive causar adoecimento.


4. Por fim, procure ajuda!


Nenhum manual de Psiquiatria e/ou Psicologia nos ensina que o ser humano é capaz de adaptar-se a qualquer situação. A vida vai muito além das fotos de viagem e dos bons momentos publicados no Facebook, e essa pandemia vem mostrando isso ao mundo.

Negar ou racionalizar sua angústia pode funcionar a curto prazo, e em certa medida é comum utilizarmos tais recursos no dia a dia, porém em uma pandemia sem data para terminar, tais “defesas” poderão não dar conta, abrindo caminho para quadros ansiosos.



¹ LIMA, ROSSANO CABRAL. Distanciamento e isolamento sociais pela Covid-19 no Brasil: impactos na saúde mental. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 30, p. e300214, 2020.

 
 
 

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©2020 por Raphael Pinheiro.

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